Depoimentos
de Leitura e Escrita
Débora
Maria Gonçalves Rodrigues Nogueira
Sou a quarta filha de um casal com cinco filhas, temporã, que observava
as irmãs mais velhas passarem o dia cercadas de livros e, com quatro anos,
desejava imensamente ler. Minha mãe, na sua sábia ignorância, pois havia
frequentado poucos meses a escola, com o pouquinho dinheiro que tinha,
comprava-me na banca de uma cidade vizinha, uma revistinha de colorir. Eu lhe
reclamava que a revistinha não continha palavras e que eu desejava ler. Ela
então me dizia: "Aproxime seu pensamento daquilo que você vê e leia para
ouvirmos a história que esse desenho conta". Quanta sabedoria...
Colocou-me como ouvinte na escolinha municipal e com cinco anos eu estava
alfabetizada, lia e escrevia de forma tão pedagógica que chegava a passar
exercícios aos colegas no caderninho de caligrafia. Nas séries iniciais, tive
por dois anos a mesma professora, D. Rachel, que nas comemorações cívicas
designava-me como oradora oficial, fato que por mim era aguardado com muita
ansiedade, noites e noites dizendo à minha mãe que não estava conseguindo
dormir porque precisava saber qual texto leria em público. Tinha certeza de que
seria a escolhida dela. Recebi um certificado de frequentadora assídua da
biblioteca da escola, porque li todos os títulos da Coleção Monteiro Lobato,
mesmo porque a televisão apresentava O Sítio do Picapau Amarelo, pela primeira
vez, e eu tinha que ter a certeza de que a adaptação não sofreria alterações. Minhas irmãs mais velhas, já trabalhando,
presenteavam a mim e à caçula, livros que eram nossos maiores tesouros, objetos
de inveja entre as amigas, mas que eram compartilhados ao sabor de uma boa
pipoca preparada por meu pai. Saudades...
Espero ser inesquecível para meus alunos. Aprendi com o passar dos anos
a escutar e ouvir, tanto com os olhos quanto com os ouvidos. Tento perceber o
que não foi dito, descobrir novas fontes de saberes, de amizades, de novos
livros, de assuntos diversos. Mantenho o sinal verde de minha mente sempre
ligado, sempre aberto. Tenho atitudes positivas e otimistas. Isso ajuda a
realizar objetivos. Vejo a criatividade não como um dom especial que só algumas
pessoas têm. Podemos desenvolvê-la se buscarmos continuamente a informação
sobre tudo que nos cerca, se tivermos sensibilidade para as coisas que
acontecem à nossa volta e curiosidade para descobrir o que se esconde nas
aparências dos objetos, dos fatos e das pessoas. Com meus alunos, construo
grandes aprendizagens através de pequenas aprendizagens diárias.
Edivaldina
Silva de Oliveira
Comecei a gostar dos livros
escutando as histórias que minha avó contava na varanda de nossa casa, na Rua
da Fonte, perto da jabuticabeira de seu Maurício.
E que
repertório! Das carochinhas de Pedro Malasartes às lendas de Monteiro Lobato.
Algumas histórias me alegravam, outras me entristeciam, até me amedrontavam. E foi assim que as primeiras letras, como se
dizia, passaram a fazer parte de meu mundo infantil, com heróis, príncipes e
princesas, sacis, lobisomens e gatas borralheiras.
Aos seis anos, no Internato, já sabia ler e escrever garatujas, como dizia
minha avó. As freiras eram rigorosas com o abecedário e com
as rezas. E eu era boa na leitura do Catecismo. Nessa época, ganhei um lindo
catecismo, todo branquinho. Adorava aquele livrinho com Nossa Senhora de
Fátima, de branco e dourado na capa.
Mas foi no Grupo Escolar que conheci
professora Rizoleta, ou Zozó para os íntimos. Com ela tinha leitura de todo
jeito: de cor e salteada, oral, cantada. Através dela, conheci o esconderijo de
Ali Babá e seus quarenta ladrões, a magia da lâmpada de Aladim, e as maravilhosas
peripécias de Sherazade. Adorava essa literatura que me transportava aos
tapetes voadores do oriente.
Assim foi meu ponto de partida para
devorar gibis, fotonovelas, José de Alencar, Machado de Assis, Bernardo
Guimarães entre tantos outros.
Hoje, refaço essas experiências para os alunos e para os meus netos. E
como eles gostam!
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