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Somos um grupo de professoras envolvidas no aprimoramento das competências leitora e escritora em contexto digital. Questões relativas à leitura/escrita e aos gestos de ler e escrever vêm sendo muito discutidas. Hoje, mais do que nunca, a formação de leitores/escritores competentes é fundamental em nossa sociedade que exige cidadãos aptos a desenvolver sua própria aprendizagem. Visite o blog Ler faz a minha cabeça e mergulhe num mundo inventado a partir da observação da realidade, pela imaginação do escritor. Você está convidado a caminhar conosco porque nosso desejo é que você leia e goste de ler. Que você aproveite e leia para alguém. Ou que simplesmente experimente o puro prazer de ler. Que esse blog seja seu companheiro e que ajude a construir na sua imaginação uma viagem que será só o começo de outras.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Xote das meninas (Luiz Gonzaga)

Mandacaru, quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega no sertão
Toda menina quando enjoa da boneca
É sinal que o amor já chegou no coração
Meia comprida, não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado
Não quer mais vestir timão

Ela só quer, só pensa em namorar
Ela só quer, só pensa em namorar

De manhã cedo já está pintada
Só vive suspirando
Sonhando acordada
O pai leva ao doutô a filha adoentada
Não come nem estuda,
Não dorme, não quer nada

Ela só quer, só pensa em namorar
Ela só quer, só pensa em namorar

Mas o doutô nem examina
Chamando o pai de lado lhe diz logo em surdina
Que o mal é da idade
E que pra tal menina
Não há um só remédio em toda medicina

Ela só quer, só pensa em namorar
Ela só quer, só pensa em namorar

Análise da canção
Análise da letra:
  1. Quanto ao texto poético: o título faz referência a um ritmo musical “xote”, muito popular no Nordeste, mas que em sentido figurado pode ter sido aplicado como “ritmo das meninas”, referindo-se à passagem da fase infantil para a puberdade.
  2. A música tem marcadores de tempo que sinalizam movimentos do eu poético:

  • quando fulora na seca – constatação da florada do mandacaru em plena seca, período que não favorece a vegetação;
  • a chuva chega no sertão – o período mais esperado para os nordestinos, que convivem com a seca, período em que a menina começa a se transformar em mulher;
  • o amor já chegou no coração – a difícil puberdade, início das complicações, todas as coisas da vida passam a ser coisa séria porque crescer dói e queremos nos proteger contra essa dor;
  • de manhã cedo já está pintada – a vaidade, uma inevitável consequência do processo de crescimento, sendo admirada pelo outro, é uma forma indireta de gostar de si mesma.

O refrão destaca uma forma especial e única a dois, pois o grande amor é fantasiado como uma coisa extraordinária.

Ao iniciar o poema, há uma comparação de imagens muito forte: o mandacaru florescendo na seca e a menina transformando-se em mulher com a chegada do amor no coração.

Pode-se destacar também, uma referência cultural muito importante: a preocupação dos pais, que já vivenciaram esse momento de “passagem”, e o ato de encaminharem a filha a um médico em busca de uma suposta ajuda.

Quanto à língua:
Nesta letra de música temos algumas manifestações das variações linguísticas, como:
  • fulora, no lugar de flora, doutô – doutor, amplamente usada pelos nordestinos. Compreende-se que as variantes são formas de falar e não erros ou deficiências do usuário; são tão legítimas quanto outras quaisquer em termos linguísticos e o preconceito à elas se firma no preconceito social que considera ruim, feio e errado tudo o que não pertença a determinadas camadas sociais.


Pelas ações realizadas, concluo que:
  • a linguagem figurada do título impede uma aproximação antecipatória do conteúdo, uma vez que “xote” tenha sido empregado como ritmo de dança.
  • ao passar os olhos pelo texto antes de lê-lo, foi possível verificar o autor, o que ofereceu-me pistas para ativar meus saberes a respeito do seu gênero e formular hipóteses comprovadas após a leitura, como por exemplo, a diagramação da página e o uso das variantes linguísticas pelos nordestinos.
  • o uso de vocábulos como Mandacaru (espécie de cacto,vegetação de seca, que serve de alimento para o gado); timão (vestido solto no corpo, feito com tecido de chita); surdina (sem barulho ou alarde, em oculto) remete-nos a concluir que o leitor possui um conhecimento prévio sobre eles ou que o possa fazê-lo mediante o contexto ou intervenção da professora.
  • levantar a discussão com o grupo sobre quem conhece e quem sabe cantar leva-o a uma melhor compreensão da música quanto à análise do texto e a linguagem usada como manifestação própria da linguagem.


NOGUEIRA, Débora Maria Gonçalves Rodrigues. Blog Ler faz a minha cabeça – Curso Melhor Gestão, Melhor Ensino. 2013.

3 comentários:

  1. Parabéns Débora! Pela iniciativa do blog e pela análise do xote! Gostei muito!

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  2. Parabéns Débora, gostei muito da sua análise. No entanto, penso que quando "o amor chega no coração" elucida apenas a transição para a puberdade. Onde a menina deixa a boneca e começa a se pintar mobilizada pela vaidade que a faz querer está bonita, atraente, admirada e desejada tanto quanto a chuva no sertão na qual sua chegada é anunciada pelo o florescer do Mandacaru. Contudo, se encararmos a puberdade como difícil e carregada de dor, Então teremos um paradoxo ou uma incoerência no primeiro estrofe: Onde o florescer do mandacaru é tão esperado no período de seca, e o amor no coração não¿

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